A pericardite é a inflamação do pericárdio, uma estrutura fibrosserosa em forma de saco que envolve e protege o coração e as raízes dos grandes vasos sanguíneos.
Em 90% dos casos, essa doença é causada por um vírus, como o da gripe. Nas demais situações, ela pode ser gerada por bactérias, fungos, alguns parasitas, tumores e doenças reumatológicas, entre outros.
Os sintomas de pericardite muitas vezes são confundidos com os de condições mais leves, como uma própria virose. Por este motivo, é importante conhecer todas as manifestações e procurar ajuda médica. Afinal, apenas dessa forma é possível obter um diagnóstico preciso e, assim, realizar o tratamento mais adequado, quando necessário.
O que é pericardite?
Vários órgãos do corpo humano são revestidos por finas membranas, ficando “ensacados” e isolados dos órgãos adjacentes. Por exemplo, o cérebro é revestido pelas meninges, os pulmões pela pleura e os órgãos intra-abdominais pelo peritônio. O coração, por sua vez, fica “ensacado” dentro do pericárdio.
O pericárdio é uma membrana fina e escorregadia, que envolve o coração e o separa das outras estruturas anatômicas ao seu redor. É composto por duas finas camadas, que ficam praticamente grudadas entre si, separadas apenas por uma quantidade mínima de líquido, cerca de 20 ml, que age como uma espécie de lubrificante.
Além de conferir estabilidade, o pericárdio tem como objetivo reduzir o atrito entre o coração e o pulmão, que acontece durante o processo de batidas cardíacas e a respiração.
Quando algo acontece e o pericárdio passa por um processo inflamatório ou o tecido sofre algum tipo de irritação, a pessoa é diagnosticada com a pericardite.
Durante os quadros de pericardite, o processo inflamatório pode fazer com que o volume de líquido pericárdico aumente. Até 90 a 120 ml de líquido adicional podem se acumular no pericárdio sem isso causar problemas relevantes ao coração de indivíduos previamente saudáveis. Porém, o acúmulo de volumes maiores pode comprimir o coração, o que reduz a sua capacidade de bombeamento de sangue.
A pericardite pode ser aguda, quando surge de forma súbita, com dor no peito, muitas vezes de forte intensidade e, em alguns casos, acompanhada de um quadro febril, durando de uma a três semanas, com crises recorrentes. As causas mais comuns são infecciosas, transmitidas por vírus e bactérias.
Ou pode ser também crônica, caracterizada pela evolução lenta e gradual do processo inflamatório, com a condição se estendendo por longos períodos de tempo, sem que o paciente consiga se recuperar de forma completa. Em muitos casos, é assintomática. Os sintomas só aparecem quando já existe uma quantidade maior de líquido no pericárdio (falta de ar e inchaço nas pernas, no abdômen e no fígado).
Quais as causas da pericardite?
Muitas vezes, quando o paciente é diagnosticado com pericardite, é difícil descobrir as causas da condição. No entanto, é possível que ela surja como consequência de uma infecção por vírus, bactérias e fungos, de doenças autoimunes, inflamatórias intestinais, e tratamentos médicos como a radioterapia.
Além disso, a pericardite pode surgir também após um infarto do miocárdio, câncer e de uma lesão ou trauma no tórax, ou até mesmo como sintoma de outras condições, como hipotireoidismo, pneumonia, tuberculose e insuficiência renal.
Quais são os sintomas da pericardite?
O quadro clínico de um paciente com pericardite parece com o de uma virose. Geralmente, os sintomas mais comuns são:
• Pontadas no peito;
• Dor no peito, piorando com certos movimentos, como respirar fundo ao deitar;
• Dor no peito, que pode irradiar para outros lados, como o pescoço ou o braço esquerdo;
• Dor para respirar, especialmente ao ficar em certas posições, como deitado;
• Tosse seca;
• Falta de ar;
• Ansiedade;
• Palpitações;
• Febre;
• Inchaço nas pernas, nos pés e no abdômen;
• Fraqueza e cansaço;
• Pressão baixa;
• Gastroenterite;
• Infecção de vias aéreas superiores.
Por ser uma inflamação no coração, a dor da pericardite pode ser facilmente confundida com a dor de um infarto do miocárdio, principalmente se ela estiver acometendo um paciente com alto risco cardiovascular.
Vale destacar que, na pericardite de origem tuberculosa, o quadro não é tão agudo e o indivíduo costuma ter febre alta, suores noturnos e emagrecimento.
Como é feito o diagnóstico da pericardite?
O diagnóstico da pericardite leva em conta as queixas do paciente, a avaliação clínica e o levantamento do histórico pessoal e familiar da doença.
No exame clínico, o médico pode constatar ao auscultar o coração, utilizando estetoscópio, que há um barulho de fricção durante os batimentos cardíacos. Esse quadro, chamado de atrito pericárdico, é gerado justamente pela inflamação da camada em volta do coração.
Também é possível detectar um derrame do pericárdio. Entre a membrana e o coração existe um líquido muito fino e em pequena quantidade que permite que o órgão deslize ali dentro. Quando a inflamação está bem acentuada, pode ficar um espaço que naturalmente não existe entre o pericárdio e o órgão. Com isso, há um acúmulo de secreção nesse espaço, que é chamado de derrame.
Exames complementares de imagem, como raios-x, eletrocardiograma, ecocardiograma, cateterismo, tomografia computadorizada e ressonância magnética, além de exames laboratoriais de sangue, como hemograma completo, PCR, creatinina e cultura, podem ser úteis para determinar a causa da pericardite, quando é possível, e orientar o tratamento.
Como funciona o tratamento da pericardite?
O tratamento da pericardite pode ser feito com o uso de alguns medicamentos que ajudam a minimizar os sintomas e aliviar a inflamação na membrana que cobre o coração.
Na maioria dos pacientes com pericardite aguda, provocada por vírus ou sem causa esclarecida, o tratamento pode ser feito com repouso e aspirina ou algum anti-inflamatório comum. Caso a dor não melhore dentro de uma semana, o quadro precisa ser reavaliado.
Outro medicamento que pode ser usado é a colchicina, que, além de melhorar os sintomas da pericardite aguda, também reduz o risco de recorrências.
Fora os medicamentos descritos acima, outras opções são os corticoides.
Quando a causa da pericardite é identificada, como nos casos de infecções por bactérias ou tuberculose, também faz parte do tratamento o uso de antibióticos voltados para essas infecções.
Em quadros mais delicados, com a presença de outras doenças cardíacas, pode ser necessária a internação hospitalar para acompanhamento médico.
Se for possível detectar as causas da pericardite, é recomendado também tratar a condição para aliviar os sintomas.
Com o tratamento adequado, a pessoa consegue se curar totalmente da pericardite. Porém, é importante manter um acompanhamento para evitar que retorne após um tempo.
Possíveis complicações da pericardite
Na maioria dos casos, principalmente os de origem viral, a pericardite é um evento autolimitado, que responde bem à administração de anti-inflamatórios e cura-se entre uma e três semanas. Porém, é possível desenvolver complicações, principalmente no caso da pericardite crônica ou quando o tratamento não é feito de forma adequada, podendo incluir:
- Tamponamento cardíaco
Em alguns casos de pericardite, a inflamação pode levar à produção anormal do fluido lubrificante, que se acumula no interior da membrana pericárdica que circunda o coração.
Esse acúmulo de líquido entre as lâminas do pericárdio comprime as câmaras cardíacas, o que dificulta a entrada de sangue nos ventrículos e, consequentemente, reduz a quantidade de oxigênio que deveria chegar aos órgãos e outros tecidos do corpo.
Queda brusca da pressão arterial, falta de ar, tontura, batimento cardíaco e respiração acelerados, além de inchaço nas veias do pescoço são os sintomas mais frequentes do tamponamento cardíaco. - Pericardite constritiva
Apesar de incomum, algumas pessoas com pericardite, particularmente aquelas com a inflamação prolongada das membranas do pericárdio e a repetição frequente das crises, podem desenvolver cicatrizes e um permanente espessamento do pericárdio.
Nesses pacientes, o pericárdio perde sua elasticidade, torna-se rígido e passa a comprimir o coração, dificultando o adequado bombeamento do sangue. A pericardite constritiva costuma causar cansaço, falta de ar e inchaços nas pernas e no abdômen.
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